quarta-feira, 20 de julho de 2011

Caso mode-on

"Peguei o velho e bom Never Mind the Bollocks , Here's Sex Pistols e pus na vitrola antiguinha que herdei da vó. Nostalgia, eu acho que tivemos. A tempo eu não pensava e ouvia e queria estar junto com o Sid de novo; e Bruno? Fez cara de que a tempos não ouvia: entregou-se, como que se entregasse na cama nupcial de John Lydon. Mas quando chegou a tão inibriante God Save the Queen; vi que ele se transmutou a um jovem ideológico, como aqueles outros tantos que na rua estavam jogados as traças. Peguei-o pelas mãos, olhei em seu olhos e disse em tom forte e agressivo: Profane! Profane! Ele por sua vez, empurrou-me. Cai. Uma lágrima rolou. Ele voltou a si; lembrou do que fez e correu em minha direção. Chorou comigo. Me abraçou e eu o abracei. Acabamos onde sabíamos nos perdoar. Houve amor. Houve guerra. Houve pelos. Também existiu suor, respiração ofegante. Ele começou e eu terminei. Apaguei a luz. Ele se afastou. Dormi, logo Perpétua, a minha doce libélula azul com cara de Courtney Love chegava de sua noite de trabalho e tudo tinha que estar cheirando a amor-eterno-mode-on..."

Sufoco

"O que me trouxe até aqui foi a loucura da minha pequena imaginação. Pense comigo: a gente chora, ri, ama e tudo que há de bom e ruim acontece um dia. Vai acontecer de novo. E sabe que de novo? Então: digo que é loucura, digo que é insanidade, digo que isso tudo é humanidade. Não há ser-homem-desumano que nunca tenha passado por tudo isso. Se houve, não é ser-gente-humana. Ai. Dói tudo: os olhos de tantas lágrimas machucar. O coração de tanto amor para sufocar e tanta dor no dedo tentando uma morte que não vem. Daí a gente vai caminhando, seguindo e vivendo-a-morte-nossa-de-cada-dia."

Abencoá

"Desejei. Pedi aos céus toda sorte de benção. Proferi as velhas orações. Ajoelhei. Fiz os gestos, sinais... Me amarrei, talvez... Oração liberta. Socorrei-me meu velho Pai Oxalá, que de velhice o senhor entende. Dê me a luz corriqueira dos seus olhos e protegei-me das ciladas-dos-inimigos (que são tantos sabe?). Guiai-me. Que os Pretos-Velhos me curem de mim mesmo. Que sua mãe, a Virgem Santíssima e Purinha da 'silva', me revele a alegria verdadeira de minha amada vidinha aqui debaixo dos céus. Mas que todos os seus anjos me mostrem o caminho certo que devo tomar, mesmo que seja o certo para mim... Saravá!"

Falsa imagem

"Acontece que daí, a gente percebe que tudo foi em vão. Que o cara dos nossos sonhos pode até existir, mas que ele não cabe nos nossos sonhos. Remoemos por dentro todo apreço e toda a nossa babaquice de requinte francês para o amour. Corre atrás, queima a cara e vê que isso só serviu de atestar nossa profunda imbecilidade. Observa que ele é de outro ou outra e de todo mundo e que não é seu e não cabe dentro do seu coração. Chora, sofre e acha que vai morrer. Não morre, vira a esquina e percebe que a vida continua. Em alguns dias você ainda lembra dele e do sonho que sonhou e nunca realizou. Do nada um alguém inferior a tudo que você um dia mentalizou, oferece para te amar, te cuidar, te gostar. O que você faz? Despreza-o. Acha que ele é feio, pequeno ou nada daquilo que você quer. Quando acorda? Quando percebe que feriu um coração e que tudo que um dia quis não virá acontecer. Babaca? Sim... Pois ainda acredita no conto de fadas que criou e morre dentro dele com a mão dentro da própria calça..."

Dissemos baixinho

"Te amo, do jeito que é. O seus questionamentos acerca de mim, que ressoam como poesia as minhas distrações. Saiba que questiono junto com você. Não tenha medo das perguntas. Elas servem para nos dar vida e não pararmos diante das coisas mais fáceis. Amo cada detalhe em você. Mesmo aquelas que sua humanidade lhe traçou. Elas são para mim, ponto estratégicos de reconhecimentos de uma singularidade unica sua. São os traços que só cabem a você definir se são certos e errados, a mais ninguém, mesmo que outrora eu apenas as citei como ponte de verdadeira derrocada do meu povo antigo. Tenho em você, a certeza de que existem pessoas que entenderam de fato a liberdade que foi dada, não se limitou a pensamentos mesquinhos de minha crueldade em deixar que fizessem o que fizessem e que teriam que responder a mim. Você entendeu que eu vos fiz mesmo livres, para que vivessem e caminhassem com as próprias pernas. Amo quando se afasta de mim, e me torna seu mais terrível inimigo. Conhecendo-te como conheço, sei que isso não dura muito tempo, e que logo se entrega aos braços de quem tanto odeia. E isso te torna mais amigo. Deves saber que te amo sempre. Amo quando me torna substantivo em suas prosas. É isso que eu quero. Estar junto de você como algo que caía bem em seus momentos. As suas metamorfoses, justificam os seus sonhos. E quanto a eles, só cabem a mim e a você. Claro, tens o direito de dividir com quem mais quiser, mas que os seus sonhos, são desenhos em meu corpo, como você faz no seu. Não abro mão dos seus sonhos, mesmo quando você mesmo já desistiu deles. Não importa os olhos julgativos dos que te cercam. O que nos interessam são as nossas prosas, os nossos encontros e os nossos sonhos, que serão planos de um projeto de vida em que eu não me afastarei de você e nem você de mim."

Nem tudo são flores

"Claro que eu tinha consciência de que tudo se tornaria mais difícil com o decorrer do fato que sucedeu em um dia. Dois para ser verdade. Eu tinha certeza de que os fardos que eram meus nunca mais seriam divididos com ninguém. Sobre as nossas cruzes? Ah! Penso que carrego algumas, como a cruz da saudade. Essa que tanto tem feito o meu regresso as nostalgias de minha subversão. ainda coloquei sobre o ombro a cruz do esquecimento. Os olhos que sempre esteve olhando para cada uma de minhas misérias não olha mais. Talvez fora recolhida de tanta falta de coragem de encarar o trapo humano que me tornei ou simplesmente cansou-se dos meus corriqueiros erros. Deixou-me. Tornei-me herança de ninguém e de um destino estranho e sem nenhuma possibilidade de me tornar aquilo que meus sonhos um dia foram capazes de inventar. Que sonhos? Eram apenas coisas. Essas mesmas coisas que tenho que deixar para trás pois nunca me acometerá a louca sorte de me acontecer. Pequenas coisas que a dura realidade me fez ver que não levaria a lugar algum que não fossem as angústias; sofrimentos. Até rangeres de dentes... Por que eu desisti? Ah! não tive mais impulso, nem de alguém nem de ninguém. Nem de mim mesmo. Pode ser que tenha chegado a hora de eu enfim encarar a cruz como meu destino final. Queimar sobre ela e perceber que tudo é sempre tão igual e que nada que acontece é diferente. Outro ponto final."

Dizer...

"Eu tinha que, de uma maneira bem autêntica dizer, ou melhor, expressar para ele que talvez fosse o momento do nosso amor acontecer. Estava na hora de fazer valer toda aquela besteira clichê que a tanto tempo eu tinha alimentado: histórias de amor; músicas de amor; fotos de amor. Não era a nossa história, mas deu-me o suficiente para tomar aquela pequena dose diária de coragem que a tanto tempo andei me esquecendo debaixo do cobertor quente, junto com aquele corpo que já não amo mais tanto assim. Precisava dele, daquele outro mais perto de mim. Já tinha até imaginado os nossos próximos dias cheio de amor e encanto. Magia, aquela coisa tosca que cisma em invadir toda a nossa concepção de gente e inventar que ele é perfeito, mas ponto final: é somente isso que eu quero. Talvez a última coisa que eu peço ao meu bom Deus (nem ele mais acredita nisso). Dizer que eu estava apaixonado, foi o que logo pensei em fazer. Mas como que eu me sujeitaria a atestado de insanidade desse porte? Daí a gente lembra que paixão é isso mesmo: caos e solidão. Um tempo para mastigar o que a gente andou engolindo com o coração. Momento de ficar quietinho e não se mexer, pois senão pode virar uma bosta. Do outro lado tentar não desarrumar tudo, pois os próprios sentimentos serão como crianças reinadeiras com um fogo por debaixo das fraldas, impossíveis de controlar. Dizer, foi o que decidi. A quem? Meu peito ainda não se decidiu, talvez para aquele franzino de voz fina que vi passar um dia desses com um chapéu na cabeça ou para aquele que ainda nunca fui apresentado na vida real... Mas pode ser para você, um estranho descontente que cismou de morar perto de mim..."